Como nossos pais - Belchior

Como nossos pais - Belchior 

A letra inteira é intensa, bela, mas, separo estes trechos para uma breve análise.
Sei que muitas resenhas foram feitas dessa canção, e, não por acaso, a mesma foi escolhida para fazer parte do show que posteriormente transformou-se em um dos maiores clássicos da MPB de todos os tempos por Elis Regina, por ser tão intensa quanto sua mais famosa intérprete.

"...Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa..."

Num primeiro instante, o compositor (Belchior) nos apresenta a sua frustração, por não ser ouvido e levado a sério, mostra-se humilde, e reconhece o amor como sendo uma coisa boa, incita-nos a não apenas cantar, mas, sim, a viver, afinal, a vida de qualquer pessoa é muito mais que uma simples (por vezes não tão simples assim) canção. Ok. Não vivi a época, mas sabemos que muita coisa era dita de forma velada, a censura era algo causticante...

"...Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sinto tudo na ferida viva
Do meu coração..."

O poeta (sim, considero Belchior um dos maiores de nosso tempo) descobre um novo local para viver, talvez ao fugir de determinada cidade (nesse caso representado por sertão) acaba encontrando um local onde é apreciado, respeitado, ou, talvez, apenas não seja marginalizado (no sentido de ser colocado por párias de nossa vil sociedade para "escanteio", ser forçado a viver às margens da tal sociedade) e começa a encher-se novamente de esperança... Sente que coisas boas estão acontecendo e também toma postura de lutar por algo novo, que ainda está por vir (Velha Roupa Colorida, outra bela canção nos fala disso). Podemos também interpretar como a chegada de um novo tempo, de um novo amor, um novo relacionamento, porque não?

"...Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém..."

Neste trecho, o poeta evoca antigos amores, ídolos quaisquer, seja nas artes, na vida pessoal, política.... etc.... Perdemo-nos no meio de tanto medo de mudança. Deixamos passar, escoar por entre nossos dedos, a oportunidade de ver o surgimento de novos ídolos, os quais algumas vezes, tornam-se imortais também. Não precisamos divagar muito... Temos o exemplo do próprio Belchior, transgressor contumaz, que firmou-se como ídolo... Deixamos de viver novos amores, pelo comodismo. Deixamos de apimentar, aquecer nossas relações, pelo simples fato de acharmos que do jeito que está é bom, e não pode ser melhorado. Deixamos de conhecer lugares e pessoas, os quais podem nos fazer bem, pelo receio de perder o que está ao nosso lado. 

"...É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem..."

Sim, o novo sempre vem... Mas, podemos usufruir do novo, mantendo as coisas que nos fazem e sempre fizeram bem, porque não?

UM AMIGO (Gean Matiello)

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