Perda

Acostumado com isso, porém mais uma vez frustrado.
Perdemos muita coisa em nossas vidas. Começamos perdendo o conforto do útero materno.
Na sequência e gradativamente vamos perdendo a inocência.
Deixamos de lado nossos sonhos de menino, nossas atitudes transparentes.
Começamos então a nos contaminar com a inveja, a cobiça, a ganância.... No auge do torpor mental que nos é infligido pela sociedade, somos forçados a escolher nossas profissões, geralmente baseados no salário que a mesma pode proporcionar, e não por puro prazer, paixão, como realmente deveria ser.
Quando acordamos, é tarde demais...
Alguns por covardia, outros por descobrirem-se tardiamente, outros por aparência, necessidade e até mesmo imposição da família, acabamos constituíndo a nossa família.
Perdemos novamente. Duplamente, não, triplamente... Perdemos ao mesmo tempo a oportunidade de sermos felizes, de fazermos alguém feliz e, o que é pior, perdemos a oportunidade de não atrapalhar a vida alheia.
Começam aí os questionamentos, com raras exceções. Surgem novos amores. A monogamia hipócrita pregada por nossa sociedade nos condena. Acovardamo-nos e vivemos de fachada, muitas vezes com medo do julgamento alheio. Rendemo-nos ao comodismo, a um pseudo-conforto que não nos leva a lugar algum.
Outrossim, quando algum desvairado como eu vai contra a maré, fazendo tudo a seu modo e tentando arduamente VIVER antes de mais nada, é tido como louco.
E, o problema, é que chega uma hora que você percebe que não ter vivido tudo isso é uma grande e completa insanidade.
Começam então os reais sentimentos de perda... Perda do convívio familiar, dos verdadeiros amores, das reais e arrebatadoras paixões... Aquilo que, caso fôssemos "normais" perante os olhos da sociedade, viveríamos, talvez não tão intensamente, mas prolongadamente.
E, não adianta, cada perda é única. Por mais que você esteja habituado a ela, jamais se acostumará com tal sentimento.
Perdi, choro, mas não mais me desespero com dantes.
A ti, com carinho.